Uma abordagem policial que resultou na morte de Iranilton da Silva Santos, de 35 anos, durante um surto psicótico em Araguaína, Tocantins, está sendo investigada como uma possível “falha técnica” por especialistas em segurança pública. O coronel Robson Rodrigues da Silva, pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UERJ), analisou as imagens da ocorrência a pedido do g1 e destacou a necessidade de uma investigação detalhada pela Polícia Civil.
“Me parece que houve uma falha técnica e essa falha técnica de qualidade, de qualificação, de avaliação tem que ser dividida com a Polícia Militar, quem sabe até que ponto foi uma decisão dos policiais no momento, se eles tinham embasamento técnico fornecido pela instituição ou não. Tem que ser tudo respondido no caso da Polícia Civil”, afirmou o coronel Robson.
A Polícia Militar (PM) informou que mantém um programa contínuo de capacitação e qualificação dos policiais, incluindo o uso de armas não letais e técnicas de abordagem. A corporação ressaltou que atendeu outros 54 casos similares em Araguaína sem que estes culminassem em morte por intervenção policial e está colaborando com as investigações do caso.
O incidente ocorreu na segunda-feira, 15 de julho, quando Iranilton da Silva estava com um facão ameaçando vizinhos. A equipe da PM foi chamada para dar apoio ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que havia sido acionado. Toda a abordagem foi registrada em vídeo.
O coronel Robson Rodrigues, que possui vasta experiência em órgãos de segurança pública no Rio de Janeiro, explicou que várias hipóteses podem ter contribuído para a decisão de não usar armas não letais. Entre elas, a falta de informação sobre a real situação psíquica do homem e possível despreparo ao utilizar essas armas.
“É possível que em uma ocorrência policial, a polícia de preservação da ordem, a primeira a ser acionada, vá se deparar com elementos turbulentos. Então caberia à instituição ações preventivas do tipo qualificação policial, análise de probabilidades de que isso ocorra, estudos de comportamentos para que possa dar a melhor resposta e, evidentemente, além do treinamento dos policiais, o equipamento adequado”, explicou o coronel.
Rodrigues destacou a importância do uso gradativo da força. “Então você tem que ter ao seu alcance [dos policiais] conhecimento técnico para usar esse equipamento menos letal”, afirmou.
Ele sugeriu que, no caso da abordagem a Iranilton da Silva, o uso de uma pistola eletrônica de pulso magnético poderia ter sido suficiente para imobilizá-lo. Segundo o especialista, o conhecimento e o preparo técnico são essenciais para evitar o uso de força letal em situações de risco.
A Polícia Militar informou que está colaborando com a investigação conduzida pela Delegacia de Homicídios, que apura as circunstâncias da morte de Iranilton da Silva Santos. “Houve um crime, o que agora vai ser apurado é se eles reagiram em legítima defesa na iminência de uma agressão. Só quem pode dizer é não só eles, mas eventuais testemunhas e evidências materiais, ou seja, as provas que vão ser colhidas, ou se já não foram, pelo pessoal da perícia”, concluiu o coronel Robson Rodrigues.