A manhã de sábado (15) começou como tantas outras no Ginásio Poliesportivo Emivan Viera Moura, em Augustinópolis, mas rapidamente tomou a forma de uma celebração rara: o encontro de gerações da capoeira para marcar os 30 anos da Associação e Centro Cultural Espora de Ouro. Segundo o Jornal Voz do Bico, o XXVIII Evento de Capoeira, organizado pelo grupo, reuniu mestres vindos de diferentes regiões, autoridades, familiares e dezenas de jovens que há anos encontram no berimbau um caminho de disciplina e pertencimento.
Fundada por Mestre Luiz Henrique Meirelis Hatem, o Mestre Kiki Mandinga, hoje um dos nomes mais reconhecidos da capoeira no Tocantins, a Espora de Ouro atravessou três décadas mantendo a mesma missão: promover cultura, inclusão social e formação humana. Iniciado na arte ainda em 1989, no Recife (PE), Mandinga carrega no discurso a mesma firmeza que emprega no toque do berimbau.
“A capoeira nasceu como forma de resistência dos povos africanos escravizados no Brasil. Ela carrega um legado de luta por liberdade e dignidade, e é exatamente isso que buscamos oferecer aos integrantes do nosso grupo”,
disse o mestre em entrevista ao Portal Voz do Bico.
O evento trouxe ao tatame vozes experientes da capoeira brasileira: Mestre Índio, presidente da Federação de Capoeira do Tocantins; Mestre Pesado, de Palmas; Mestre Geleia, de Campos Belos (GO); e Mestre Marcão, de Belém (PA). Antes das rodas, o ginásio foi tomado pelos sons da banda do Colégio Militar do Tocantins, CMTO La Salle, de Augustinópolis, e do grupo de percussão da própria Espora de Ouro, que abriu oficialmente a programação.
Ao longo da cerimônia, a festa tomou contornos de rito de passagem. Foram 28 batismos de jovens de até 16 anos, 10 graduações e duas formaturas de contramestres, um ciclo que terminou com 40 novas cordas entregues e a certeza de continuidade do trabalho iniciado há décadas.
Entre as falas, Mestre Mandinga retomou um ponto que repete com frequência aos alunos: a capoeira como espaço aberto a todos.
“A capoeira cria comunidade e pertencimento, especialmente para jovens em situação de vulnerabilidade. Aqui, eles encontram disciplina, respeito e valorização da cultura afro-brasileira”,
afirmou.
Em Augustinópolis, o mestre mantém aulas gratuitas três vezes por semana, atendendo cerca de 40 crianças e adolescentes, além de alguns adultos. O projeto, que nasceu modesto, hoje se consolida como um dos pilares de acesso à arte e ao esporte na cidade.
A comemoração dos 30 anos também reuniu autoridades do município. Estiveram presentes o prefeito Roni Teodoro e a primeira-dama Sângela Teodoro; a secretária de Educação, Renata Sousa; o secretário de Esportes, Gustavo Medeiros; o secretário de Cultura e Turismo, Fernando Cardoso; o presidente da Câmara Municipal, Antônio Feitosa (Toinho); e os vereadores Gaúcho, Dr. Rômulo e Saulo Carreiro. Representantes de instituições locais também acompanharam a cerimônia, entre eles Djeyse Araújo, do Sicredi e Rotary Clube, e Eliane Falcão, da Loja Maçônica.
No fim da tarde, enquanto os últimos toques ecoavam pelo ginásio, a sensação era de que a Espora de Ouro não celebrava apenas três décadas de história, mas a permanência de uma tradição que continua abrindo caminhos para novas gerações.

