Lula entrega títulos de terra a famílias no Bico do Papagaio

por 28/06/2025

Às margens do Rio Araguaia, no coração do Bico do Papagaio, a manhã desta sexta-feira nasceu com cheiro de terra molhada e expectativas no ar. No Cais do Porto, onde o rio abraça Araguatins com sua imensidão tranquila, gente de todos os lados se reunia em clima de reencontro e conquista. Vieram famílias inteiras do Pará, do Maranhão, do interior do Tocantins, muitas em caminhonetes cheias, ônibus fretados, carros particulares ou até mesmo caronas solidárias. A cidade já não comportava mais hóspedes, os hotéis estavam lotados, as ruas cheias de vozes, bandeiras e olhares atentos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em solo araguatinense para cumprir uma missão que vai muito além de uma agenda política. Ele veio entregar títulos de terra a centenas de famílias que esperaram por esse momento. No semblante de cada agricultor presente, havia um pouco de alívio, orgulho e certeza de que a história, finalmente, começava a fazer justiça.

A cerimônia foi montada bem no Cais, onde o vento do Araguaia soprava forte e refrescava os rostos suados de quem ali permanecia desde cedo. A estrutura simples contrastava com a grandiosidade do gesto. Quando Lula subiu ao palanque, o som dos aplausos ecoou sobre o Rio Araguaia como se fosse o grito de uma torcida de futebol. E, de certa forma, era mesmo. Gritavam, cantavam, agitavam bandeiras como se estivessem num estádio torcendo pelo Brasil. E gritavam alto: “Lulaaa, Lulaaa, Lulaaaa! Olê, olê, olê, olá!”. Era a torcida de um povo que passou anos esperando por esse momento. Um momento que nasceu do silêncio, o silêncio da espera, e explodiu em coro, como quem finalmente pode dizer: “ele voltou”.

Em meio aos discursos, um dos momentos mais simbólicos foi quando o prefeito Aquiles da Areia, com seu jeito expansivo e sincero, entregou ao presidente o título de Cidadão Araguatinense. Foi um abraço apertado, sem formalidades, daqueles de quem reconhece a luta no outro. Ao microfone, Aquiles não poupou palavras e, num tom que misturava reverência e verdade, fez questão de lembrar que a história de Lula com a região é antiga. “Naquele tempo era uma ditadura severa, e o presidente Lula, juntamente com o Osvaldão, com Dilma, já militava aqui nas barras de Xambioá, aqui no Bico do Papagaio, com a Raimunda, quebradeira de coco, e esses guerreiro…”

A menção à Raimunda Gomes da Silva, a Raimunda Quebradeira de Coco, tocou fundo nos presentes. Líder comunitária, referência nacional na luta das mulheres extrativistas, fundadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, dona Raimunda rompeu fronteiras e levou sua voz da mata até as Nações Unidas. Foi à China, aos Estados Unidos, e voltou sempre com o mesmo compromisso: proteger o babaçu e garantir dignidade a quem vive dele. Morreu aos 78 anos, mas seu legado ainda pulsa nos olhos das mulheres do Bico. O nome dela, lembrado por Lula e Aquiles, transformou a cerimônia em algo ainda maior, uma celebração da memória, da resistência e da ancestralidade desse povo.

Entre os que receberam os títulos, histórias de vida marcadas pela luta. Uma senhora, ao sair do palco com o documento nas mãos, dizia baixinho que agora poderia dormir em paz, com a certeza de que a terra era dela de verdade. Um pedaço de chão com nome, com direito e com futuro.

Esse sentimento se espalhava entre os rostos no cais. Para muitas dessas famílias, ver Lula de volta ao Tocantins não era só o retorno de um presidente. Era o reencontro com uma história construída lado a lado com os mais pobres. Desde os tempos em que o PT era uma esperança nas comunidades rurais, passando pelos programas como o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Pronaf, os assentamentos, tudo isso trazia naquele gesto de entrega. Para eles, Lula era o homem que voltou para olhar nos olhos de quem sustentou a base de um projeto de país.

O reconhecimento veio até de quem, politicamente, está do outro lado. Políticos da oposição presentes no evento elogiaram a postura do presidente, destacando a forma pacífica como governa e sua disposição em atender demandas dos municípios, independentemente de bandeira partidária. “Lula governa como um verdadeiro presidente. Quando se pede, ele vai lá e faz”, disse um dos líderes locais. Essa postura foi vista como uma demonstração de maturidade e compromisso com o país como um todo.

Ao discursar, Lula falou com o coração, num tom de quem conhece a dor e a esperança do povo do interior. Disse que o Brasil precisa de verdade, de comida no prato e de igualdade. E fez um apelo:

“Vocês precisam ajudar a derrotar as mentiras, inclusive sobre políticas que prejudicam mulheres, crianças, pessoas com deficiência. Eu fico puro da vida com isso. O mundo está precisando de paz. Tem milhares de pessoas passando fome no mundo inteiro e os países ricos investindo milhões em armas, não gastaram um tustão com comida… Eu quero é que o filho de uma mulher pobre faça a mesma universidade que o filho de um rico”

A frase arrancou aplausos e lágrimas. Era mais que um discurso: era um chamado para reconstruir pontes e devolver dignidade a quem foi deixado para trás.

Com os olhos fixos no futuro, cada beneficiado saía do evento com um envelope e uma certeza: agora, sim, podiam fazer planos. Podiam pegar crédito, reformar a casa, plantar com tranquilidade. Podiam dizer que eram donos da própria história.

Ao final do evento, o Rio Araguaia seguia calmo, como quem guarda os segredos de séculos e observa o tempo passar com sabedoria. E Araguatins, mais uma vez, foi protagonista de um capítulo que não será esquecido. Um capítulo onde o Brasil profundo se reconhece, onde a justiça pisa o chão de quem planta e onde a voz das quebradeiras, dos ribeirinhos, dos assentados e das mulheres se mostra firme, como as raízes do babaçu.

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Daiane Silva

Daiane Silva

Olá, meu nome é Daiane Silva, tenho 23 anos e estudo Publicidade e Propaganda na Universidade Estácio de Sá, além de Jornalismo na Universidade Federal do Maranhão. Tenho uma paixão especial por narrar histórias de pessoas comuns, especialmente no jornalismo de profundidade, onde cada detalhe é meticulosamente explorado, sem deixar nada de fora. Valorizo a experiência de sentir, ouvir e reviver os eventos que reporto. No Diário de Augustinópolis, meu papel principal é trazer informações detalhadas e de alta qualidade. Estou à disposição para recebê-los aqui sempre que possível.

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