O Tocantins perdeu nesta quinta-feira um de seus nomes mais marcantes da política regional. Antônio Cayres de Almeida, mais conhecido como Antônio do Bar, prefeito de Augustinópolis e irmão do presidente da Assembleia Legislativa do Tocantins, deputado Amélio Cayres, morreu aos 75 anos em Brasília, onde estava internado havia dias.
Segundo pessoas próximas, Antônio vinha enfrentando complicações de saúde desde que contraiu COVID-19, doença que deixou sequelas persistentes. Nos últimos dias, o quadro se agravou, levando a família a transferi-lo para a capital federal.
A notícia de sua morte provocou comoção imediata no Bico do Papagaio, região que ele ajudou a moldar politicamente ao longo de mais de três décadas.
Uma trajetória entre o comércio e a política
Nascido em 25 de agosto de 1950, em Érico Cardoso, na Bahia, Antônio do Bar chegou ao então Norte Goiano em 1977 — época em que Augustinópolis ainda era apenas um povoado. Instalou-se com a esposa, Deijanira de Almeida Pereira, conhecida como Dona Deija, com quem foi casado por quase 40 anos. O casal tornou-se uma força política local: ela também foi prefeita de 2013 a 2016.
Antes de ingressar na vida pública, Antônio ganhou notoriedade pelo espírito empreendedor. Foi dono de um bar e sorveteria — o primeiro do município — e, ao instalar a primeira televisão com sinal vindo de Imperatriz (MA), transformou o pequeno comércio em ponto de encontro da comunidade. Dali nasceu o apelido que o acompanharia até o fim da vida: “Antônio do Bar.”
Em 1989, foi eleito prefeito pela primeira vez. Desde então, construiu uma das mais longevas carreiras da política tocantinense, marcada por seis mandatos consecutivos e uma presença constante na rotina da cidade.
Obras, influência e popularidade
Durante mais de três décadas, Antônio do Bar comandou Augustinópolis com um estilo de liderança pessoal e carismático. Investiu em educação, saúde e infraestrutura, inaugurando escolas, postos de saúde, praças e pavimentando ruas em bairros periféricos.
Na gestão de sua esposa, foi inaugurada a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), considerada uma das mais bem equipadas do interior do estado.
Sua influência política ultrapassava as fronteiras municipais. Com o apoio do irmão, deputado Amélio Cayres, manteve-se como um dos nomes mais fortes do Bico do Papagaio, região composta por 25 municípios no norte do Tocantins. Mesmo com o avanço de novas lideranças, manteve uma base sólida entre eleitores e empresários locais.
Um ciclo que se encerra
Em 2024, Antônio do Bar disputou mais uma reeleição, tendo como vice o empresário Roni Teodoro, em uma chapa que simbolizava a união entre o setor público e a iniciativa privada — parceria que se tornou marca de sua administração.
Seu slogan de campanha, “Ele sabe o que faz”, resgatava a origem humilde e a experiência acumulada em décadas de governo.
Augustinópolis, hoje com cerca de 17 mil habitantes segundo o IBGE, é considerada a terceira maior cidade do Bico e um polo educacional que atrai estudantes de todo o entorno. Boa parte desse desenvolvimento é atribuída ao estilo pragmático e de longo prazo do prefeito.
Com sua morte, a cidade mergulha em luto. Bandeiras foram hasteadas a meio mastro e repartições públicas suspenderam o expediente. Ainda não há informações sobre velório e sepultamento, que devem ocorrer em Augustinópolis.
Um legado enraizado
Para muitos, Antônio do Bar representava uma geração de políticos regionais que cresceram junto com o estado do Tocantins — fundado em 1988 — e ajudaram a consolidar a autonomia municipal no interior.
Mesmo sem discurso ideológico, ele se tornou um símbolo da política de proximidade, sustentada pela presença diária, pela escuta e pela capacidade de transformar gestos simples em fidelidade eleitoral.
Em um cenário de renovação política no estado, sua morte encerra um capítulo de estabilidade e memória.