A estrutura remanescente da ponte Juscelino Kubitschek de Oliveira, que liga Aguiarnópolis (TO) a Estreito (MA), será implodida neste domingo (2) em uma operação que utilizará 250 kg de explosivos e exigirá a evacuação de 200 residências. A ação, coordenada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), marca o início das obras para uma nova ponte, prevista para dezembro de 2025, um ano após o desabamento que deixou 14 mortos e três desaparecidos.
Como será a implosão?
A demolição ocorrerá às 14h, com explosivos posicionados estrategicamente nos pilares da estrutura. A detonação será feita em etapas, com intervalos de três segundos entre cada carga, controlada remotamente pelo engenheiro Manoel Jorge Diniz Dias, conhecido por demolir o presídio do Carandiru e o Estádio Fonte Nova. “Trabalhamos no limite da segurança, garantindo que os escombros caiam em direção controlada”, explicou Diniz.
Para evitar danos ambientais, telas de contenção foram instaladas nas bases, e o solo sob a ponte passou por terraplanagem. O objetivo é impedir que detritos caiam no rio, onde ainda há buscas por desaparecidos e resíduos de ácido sulfúrico e agrotóxicos.
Técnica de “linha de fratura”: precisão milimétrica
O método escolhido, chamado de “linha de fratura”, envolve a detonação sincronizada de explosivos para fragmentar o concreto em pontos críticos. “É como criar uma fissura guiada: a estrutura desmorona na direção planejada, minimizando riscos”, detalhou Moacyr Salles Neto, doutor em estruturas entrevistado pelo g1. A implosão gerará 14 mil toneladas de entulho, que serão removidos imediatamente para liberar o canteiro de obras.
Impacto na população: 200 famílias evacuadas
Um hora antes da operação, moradores de 50 casas em Aguiarnópolis e 150 em Estreito deixarão suas residências. Ônibus levarão os evacuados a um ginásio coberto, com retorno permitido 30 minutos após a demolição. “A orientação é clara: segurança acima de tudo”, afirmou um agente da Defesa Civil local. O perímetro de segurança alcança 2,1 km em cada margem.
Manoel Diniz: o “Manezinho da Implosão”
Com 42 anos de experiência e mais de 200 demolições no currículo, Diniz é uma lenda na engenharia brasileira. Sua atuação em projetos como o Palace II (RJ) e o Carandiru (SP) o credenciou para desafios complexos. “Cada implosão é um quebra-cabeça. Aqui, o risco exigiu precisão extrema”, disse.
Por que a demolição é urgente?
A ponte, construída em 1960 e reparada em 1998, entrou em colapso em 22 de dezembro de 2024, após o vão central cair sob o peso de veículos que incluíam caminhões com produtos químicos. A queda interrompeu o fluxo da BR-226, vital para o transporte interestadual. A implosão emergencial, autorizada via Diário Oficial, permitirá reconstruir a estrutura em 12 meses.
Memória da tragédia: vítimas e sobreviventes
Entre os mortos estão Lorranny Sidrone, 11 anos, e Cecília Tavares, 3 anos, além de caminhoneiros e moradores locais. O único sobrevivente, Jairo Silva Rodrigues, 36 anos, foi resgatado após horas preso nos escombros. As buscas pelos desaparecidos continuam, mas chuvas recentes elevaram o nível do rio, dificultando mergulhos.
Próximos passos
Após a implosão, o DNIT iniciará a dragagem do rio para retirar resíduos perigosos. A nova ponte, orçada em R$ 120 milhões, terá estrutura reforçada e monitoramento contínuo. Para famílias das vítimas, a demolição é um passo amargo. “Queremos justiça e garantias de que isso nunca se repetirá”, disse Andreia Sousa, irmã de uma das vítimas.