Em um desdobramento que abalou as estruturas políticas e de segurança pública do Tocantins, o ex-governador Mauro Carlesse, três ex-secretários e dez delegados da Polícia Civil tornaram-se réus sob a acusação de integrarem uma organização criminosa destinada a obstruir investigações de corrupção. A denúncia, apresentada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Tocantins (MPTO), foi aceita pela 3ª Vara Criminal de Palmas.
Segundo o G1 Tocantins, as investigações revelam que o grupo teria aparelhado a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para monitorar e vazar informações sobre inquéritos que pudessem comprometer o governo estadual. A operação Éris, deflagrada pela Polícia Federal em outubro de 2021, trouxe à tona um esquema de espionagem dentro da SSP, onde a cúpula da Polícia Civil supostamente atuava para proteger interesses do então governador.
Entre os réus estão figuras de destaque da administração estadual, como os ex-secretários Claudinei Aparecido Quaresemin e Rolf Costa Vidal, além do ex-secretário de Segurança Pública, Cristiano Barbosa Sampaio. A ex-delegada-geral da Polícia Civil, Raimunda Bezerra de Souza, também figura entre os acusados. Eles responderão por crimes como obstrução de investigações penais, falsidade ideológica e denunciação caluniosa contra funcionário público.
A denúncia detalha que o grupo teria forjado flagrantes e acusações contra adversários políticos e pessoas consideradas ameaças ao governo. Em um caso emblemático, policiais civis teriam plantado drogas na residência de um indivíduo que divulgou um vídeo comprometedor envolvendo a ex-primeira-dama, resultando em sua prisão por tráfico de drogas.
A defesa de Mauro Carlesse e Claudinei Quaresemin afirmou que o processo está em fase inicial e que, durante a instrução, ficará demonstrada a inocência de ambos. O ex-secretário Rolf Vidal optou por não se manifestar no momento. As demais defesas ainda não se pronunciaram publicamente.
Este escândalo culminou no afastamento de Carlesse pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) e em sua posterior renúncia ao cargo de governador. Atualmente, ele encontra-se preso preventivamente, após suspeitas de um plano de fuga para o exterior.
O caso lança luz sobre as complexas relações entre o poder político e as instituições de segurança pública no Tocantins, evidenciando a necessidade de vigilância constante e transparência na administração pública para prevenir abusos de poder e garantir a integridade das investigações criminais.