O Porteiro que Esqueceu Quem Paga seu Salário

por 03/02/2025
Segurança:vigilante

Um hospital público com pediatria deveria ser um lugar onde a compaixão é regra, não exceção. Afinal, ali estão crianças em tratamento, pais exaustos e profissionais de saúde sobrecarregados. Mas no Hospital Regional de Augustinópolis, em 2 de fevereiro de 2025, um porteiro decidiu que sua cadeira era um trono. Enquanto um entregador — dependendo daquela entrega para ganhar o pão do dia — tentava cumprir seu trabalho, o funcionário público, pago com impostos (incluindo os do próprio entregador), recusou-se a levantar-se. Não fez o mínimo: nem chamou a cliente, nem explicou o protocolo. Ordenou, de forma truculenta, que a encomenda fosse largada na recepção ou que o entregador esperasse “a boa vontade” de quem estava ocupada provavelmente cuidando de uma criança doente.

O absurdo não está no pedido, mas na forma. Qual direito tem um servidor público de tratar um cidadão como um estorvo? O porteiro, cujo salário vem dos impostos de todos nós, inclusive do entregador, agiu como se fosse um chefe, não um servidor. Enquanto o trabalhador corria contra o tempo para garantir seu sustento, o funcionário estável, protegido por um contrato, sentou-se na arrogância. Pior: fez isso em um setor pediátrico, onde até uma caixa de remédio ou um lanche pode significar alívio.

Há uma hipocrisia perversa nessa história. O Hospital Regional de Augustinópolis é mantido com dinheiro público — recursos que saem do bolso de diaristas, mães e pais que lutam para pagar contas. Mesmo assim, um de seus funcionários tratou um contribuinte como se fosse um mendigo pedindo esmola. Não houve empatia, não houve respeito, não houve serviço. Apenas o peso mudo do autoritarismo, disfarçado de “protocolo”. Se esse é o tratamento dispensado a um adulto, como são tratadas as crianças que choram, os pais que questionam, os doentes que reclamam de dor?

O entregador, que preferiu não se identificar, fez uma denúncia anônima, mas sua pergunta ecoa como um soco no estômago: “Imagina a forma que ele trata os pacientes?”. A resposta é óbvia: quem humilha um trabalhador em serviço não hesitará em humilhar um pai aflito ou uma criança assustada. A truculência não é um acidente: é uma escolha. Escolha de quem acha que o cargo público é um salvo-conduto para oprimir, não para servir.

Não se iludam: o problema não é o porteiro, é o sistema que o protege. Quantos funcionários públicos são treinados para ver o cidadão como um “favor” a ser concedido, não como um direito a ser honrado? Quantos gestores investem em cursos de “ética”(NÃO APLICÁVEL NO DIA-A-DIA, APENAS QUANDO CONVEN PARA BAJULAR OS RICOS), em vez de encher paredes de placas de “missão e valores”? Enquanto o Estado não punir exemplarmente abusos como o de Augustinópolis, a cultura do desprezo seguirá intocada. Servidores como esse porteiro não são exceções: são produtos de uma máquina que ensina que estabilidade significa impunidade.

A solução? É simples, mas exige coragem:

  1. Demitir funcionários que desrespeitam o público — estabilidade não é carta branca para o arbítrio;
  2. Obrigar treinamentos práticos de atendimento humanizado, com avaliações periódicas;
  3. Criar um canal de denúncias visível, onde vítimas de abusos não precisem temer pelo seu sustento;
  4. Divulgar salários e benefícios dos servidores, lembrando a todos que quem paga é o povo.

Enquanto isso não acontecer, histórias como a do entregador de Augustinópolis continuarão se repetindo. E cada uma delas será uma facada na já combalida credibilidade do serviço público. Não é sobre uma encomenda: é sobre o direito de não ser tratado como lixo por quem deveria servir.

O porteiro, em sua cadeira, talvez não saiba, mas este jornal não será cúmplice do silêncio. Diante das denúncias de superlotação no hospital e do tratamento desumano que transforma cidadãos em súditos, anunciamos: estamos de olho. Vigilantes como sentinelas, acompanharemos a conduta do Hospital Regional e de seus servidores. Não fecharemos os olhos para funcionários que confundem estabilidade com imunidade, nem para gestores que ignoram o colapso de um sistema que prioriza funcionários truculentos em vez de leitos para crianças.

Não nos cansaremos. Enquanto o povo paga impostos para ser maltratado, seremos o espelho que devolve o rosto deformado de seu descaso. A democracia não se faz com “porteiros truculentos” — mas com portas abertas à dignidade.

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Mágson Alves

Mágson Alves

| Criador de conteúdo | Filmaker | Fotógrafo |

CEO e fundador do Diário de Augustinópolis, o portal de notícias que mais cresce na região.

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